Primeiramente, pra quem não sabe o que é "traseirar", eu explico: traseirar é você ir a viagem toda do ônibus sem passar na roleta/catraca. Isso não significa necessariamente que você não vai pagar a passagem, mas geralmente é como funciona.
Há diversos motivos para traseirar: a pessoa pode estar sem dinheiro ou crédito no Salvador Card mas precisa ir a determinado lugar; o ônibus pode estar cheio demais e a pessoa ir traseirando porque no fundo é, teoricamente, mais vazio (mas pagando a passagem); ou simplesmente a pessoa tem o dinheiro mas não quer gastar andando de ônibus porque obviamente ela deve ter coisas muito mais importantes para pagar como, por exemplo, a batata suprema do Burguer King que é R$5. Eu, particularmente, traseiro todo dia utilizando o segundo motivo acima, mas eu não traseiro até o fim; quando está perto do meu destino, eu passo na roleta.
Às vezes pode parecer uma saída ótima, mas você tem que lidar com alguns malefícios que envolvem a arte de traseirar. Primeiro, o cobrador tem que permitir. Muitos cobradores/trocadores (comumente chamados de "cobra") não deixam os passageiros traseirarem porque existe o antigo golpe de chegar no ponto de destino, a pessoa forçar a abertura da porta e sair sem pagar a passagem, o que é prejuízo para o "cobra" e para a empresa de ônibus. Depois, mesmo sendo o lugar mais "cômodo", você pode sofrer muitos apertos, já que você estará em um local que é passagem para absolutamente todo mundo que entra no ônibus, portanto, aparecerá pessoas muito gordas que te espremerão, pessoas barraqueiras que gritarão "NÃO SEI PORQUE ESSE PESSOAL NÃO PASSA LOGO NA ROLETA", além de ter que passar a vergonha do julgamento dos outros passageiros (já que a arte de traseirar é demasiadamente famigerada).
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| Os gentis fiscais |
Quem é de Salvador deve saber quem são os maiores inimigos dos "traseiradores". Você deve estar pensando "ué, claro que são os cobradores". Sinto-lhes informar que existe uma casta muito superior à dos "cobras" e muito menos gentil quando o assunto é não deixar alguém traseirar, são os chamados "fiscais". Ninguém sabe de onde eles surgiram e nem se eles tem a autoridade que dizem ter, mas, devido ao porte físico dos mesmos, não creio que haja alguém que tenha parado para questioná-los sobre esses assuntos (tirando uma idosa muito simpática uma vez, que, em pleno ano de 2012, chamou um deles de "brutamontes" e pediu que ele mostrasse algum tipo de crachá ou carteira que comprovasse que ele poderia estar fazendo aquilo - ela foi ignorada). Com eles não existe "o ônibus está muito cheio, não dá pra entrar", o conceito de "coração de mãe" é altamente aplicável aos ônibus e é muito levado a sério. "O ônibus só anda depois que o fundo tiver livre" é a frase mais famosa deles. Eu, particularmente, os odeio muito porque durante uns dois meses eles apareciam em frente ao Supermercado Extra da Rótula do Abacaxi obrigando todos (inclusive eu) a entrarem e ficarem muito espremidos. Eu chegava na faculdade em um estado deplorável.
O recomendável para um "traseiramento" tranquilo é que o destino não seja muito longe (no máximo, 2 pontos), o que faz com que você ainda tenha a chance de pedir a permissão do cobrador para fazê-lo. Depois de entrar e pagar a passagem normalmente, essa seria a atitude mais honesta. Caso você tenha pedido ao cobrador e ele não tenha aceitado, não se desanime, existe uma tática milenar que é quase sempre infalível denominada "migué".
O migué consiste em você entrar no ônibus, esperar ele andar e, conhecendo o trajeto do ônibus, você perguntar se ele passa em um caminho totalmente oposto. O cobrador vai negar (é muito bom que ele negue) e vai abrir a porta para você descer no próximo ponto. Por exemplo, se você está no Shopping Iguatemi e quer ir para o Salvador Shopping sem andar todo aquele caminho e sem pagar R$2,80 por isso, é só pegar um Jd. Sto. Inácio, esperar ele andar, perguntar se passa na Ribeira (ou qualquer outro lugar que ele não passe), esperar a negação do cobrador e descer no ponto do Jornal A Tarde (tomara que nenhum cobrador leia meu blog - é sério). Consegui ir da minha casa até o Shopping Iguatemi utilizando essa tática.
Eu costumo pensar que traseirar é muito bom, mas que existe uma cota mensal; faz com que eu me sinta menos infrator (mesmo eu pagando passagem na maioria das vezes). O recomendável mesmo é pagar a passagem porque, aperto por aperto, melhor um honesto e sem julgamentos da sociedade.


nunca fui abordado por nenhum fiscal, apesar de já ter usado a arte do migué diversas vezes. só vejo eles no ponto da estação de transbordo anotando os horários dos 'carros' que chegam e saem (que é como quem n tem carro chama, amorosamente, seu buzú)
ResponderExcluirMassa, gostei de seu texto.
ResponderExcluirGeralmente pago transporte, mas quando tou sem dinheiro e sem vergonha na cara, traseiro mesmo, n tou nem aí.
A melhor forma é pegar buzu que esteja cheio, aí da pra ficar no fundo de boa.
Também é bom conhecer a rota e os pontos que tem passageiro pra entrar, pq geralmente, a maioria dos ônibus passam por vários lugares sem abrir a porta do fundo, aí se vc está na estação Iguatemi e que ir para o bonocô ou rótula sem pagar, pode acabar na cidade baixa ou em algum Cabula.