segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Assentos preferenciais: dilemas do mundo pós-moderno


Os assentos preferenciais são altos geradores de dilemas internos da modernidade. Com certeza você já se pegou pensando diversas vezes: "Estou muito cansado, devo sentar no assento preferencial? Poxa, mas é lugar para idosos e deficientes... quando algum chegar, eu levanto... mas eu estou tão cansado que não vou querer levantar e vão me julgar... ah, então eu vou fingir que estou dormindo, pronto! Ou será que não?" e por aí vai...

Se você é minimamente consciente, deve ser muito complicado tomar a decisão de sentar naquelas cadeiras de cores diferenciadas com um adesivo que diz CLARAMENTE que, dentre todas as pessoas do mundo, você não é uma das que pode sentar ali, mas que mesmo assim, a depender da ocasião, você senta. "A depender da ocasião" porque se o ônibus estiver vazio (e você tem a certeza de que vai continuar assim), não há problema em sentar lá (não estará tirando o lugar de ninguém), até porque são os melhores lugares para descer mais rápido do ônibus. Pode acontecer muitas vezes também de você ter a certeza que vai encher, mas ter a consciência de que eventualmente terá que levantar se chegar algum idoso, deficiente ou gestante.

Assentos preferenciais são, de longe, os maiores geradores de migué do universo "buzuístico". Cada categoria de contemplados pode gerar uma média de 3 migués (não citarei todos porque não lembro). Migué pra grávida, pra deficiente, pra idoso.. são muitos! Aqui vão alguns exemplos (ressaltando que todos são de origem canalha):

- Fingir que está dormindo para não dar lugar ao preferente: de longe o migué mais canalha, porém o mais utilizado. Para não ficar em pé em um ônibus que está muito cheio, é conveniente ficar no assento preferencial e ir a viagem toda fingindo que está cochilando para ignorar todo e qualquer tipo de passageiro que tenha direito àquele lugar. Nem preciso dizer o quanto mau-caratismo essa atitude é, mas assumo que às vezes parece ser inevitável (isso quando você não dorme de verdade).

- Fingir de grávida: podem ficar pasmos mas é isso mesmo que você leu. Já presenciei muitos casos, inclusive de pessoas próximas, de passageiras que aproveitam o sobrepeso para se fazerem de grávida. Essa técnica é altamente dominada porque quem um dia já foi realmente grávida. É um jeito de segurar a barriga, de se curvar, de fazer voz de coitada, de sofrida que tem que andar com aquela barriga pra lá e pra cá... enfim, obviamente apenas mulheres muito bem treinadas (ou instruídas pela vida) podem utilizar essa técnica.

- Fingir de deficiente: esse requer um nível de migué extremamente elevado. Já presenciei pessoas entrando pela frente, fingindo que era deficiente, mas que, na hora da saída, esqueceu que tinha a tal "deficiência" e saiu andando normal. O motorista fechou a porta do ônibus e o fez pagar a passagem de novo. Agora existe "carteirinha de deficiente", que é uma espécie de Salvador Card, só que para entrar pela frente. Apesar disso, algumas vezes os motoristas, observando a gravidade da deficiência da pessoa, nem pede, o que faz com que o ambiente se torne propício para o migué. Não recomendo tentar se não tiver treinado bastante.

Além dos assentos preferenciais, existe uma cadeira muito sozinha, que fica bem perto da porta da frente. Não lembro bem para que serve (deve ser pra deficiências mais graves - cegos etc), mas sempre fico com pena de quem tem que sentar ali. A única vez que sentei ali foi quando eu suspeitei que iriam me assaltar no ônibus - quanto mais sozinho e perto da porta, melhor.

Então, é isso. Morro de vergonha ao fazer algum migué relacionado aos assentos preferenciais, mas é como eu sempre digo: cria a cota. Vou criar a Lei da Cota e vou patentear.

Ah, amanhã tem um caso de um leitor que com certeza alguém já passou!

[PS.: Fiquei esse tempo sem postar porque as aulas voltaram e no meu trabalho, além de ser um local PARA TRABALHAR, não abre o blogger, o que significa que não posso postar de lá, sejam compreensivos!]

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